O Governo do Estado de São Paulo implementou um modelo de avaliação institucional conhecido como Avaliação 360º, voltado a profissionais da educação e, mais recentemente, também aos estudantes. Embora seja apresentado pela Secretaria da Educação (SEDUC-SP) como uma estratégia de avaliação mútua e participativa, o modelo tem gerado fortes críticas por parte de professores e demais profissionais da rede estadual.
Segundo a explicação oficial, a Avaliação 360º tem como objetivo ampliar a escuta e promover a valorização profissional por meio de um instrumento que permite que diferentes agentes da comunidade escolar — como docentes, gestores e estudantes — avaliem e sejam avaliados entre si, especialmente em processos de progressão na carreira e bonificação de diretores, vice-diretores e supervisores. Até recentemente, essa prática era limitada às escolas de tempo integral, mas foi expandida para todas as unidades escolares da rede.
O que tem causado maior polêmica, no entanto, é o fato de que, agora, os alunos passaram a avaliar diretamente seus professores com notas de 0 a 10. Muitos educadores consideram essa medida inadequada e desrespeitosa, uma vez que os estudantes, por mais envolvidos que estejam nas rotinas escolares, não possuem a formação necessária para compreender os múltiplos elementos que envolvem o trabalho docente.
Avaliar um professor exige conhecimentos sobre:
- Planejamento pedagógico
- Sequência e progressão didática
- Metodologias de ensino e estratégias inclusivas
- Avaliação formativa e diagnóstica
- Gestão de sala de aula
- Relação entre currículo, objetivos e aprendizagem
- Desenvolvimento socioemocional e cognitivo dos alunos
Esses são aspectos que exigem formação específica, geralmente adquirida ao longo de cursos de licenciatura, especializações e anos de prática profissional. Atribuir a estudantes a responsabilidade de emitir uma nota numérica — sem critérios claros ou mediação pedagógica — abre espaço para avaliações subjetivas, enviesadas e, muitas vezes, baseadas em conflitos pessoais.
Nas redes sociais, circulam vídeos em que alunos relatam ter dado notas baixas a professores como forma de “vingança” ou retaliação, sem qualquer fundamentação pedagógica. Frases como “ele me deu zero, então agora eu dou zero também” escancaram o caráter punitivo e pessoal que essa prática pode assumir — destoando completamente do que se espera de um processo avaliativo sério e formativo.
Veja os vídeos abaixo:
Outra consequência preocupante da implementação da Avaliação 360º é a criação de um ambiente de rivalidade dentro da comunidade escolar. Ao permitir que estudantes avaliem seus professores sem critérios pedagógicos definidos, o Estado estimula uma lógica de confronto, em vez de fortalecer vínculos de respeito e cooperação mútua.
Essa política, implementada pelo Governo Tarcísio de Freitas e conduzida pela gestão de Renato Feder na Secretaria da Educação, contribui para o enfraquecimento do ensino público, sobretudo nas regiões periféricas — justamente onde o poder público deveria atuar com mais sensibilidade, investimento e apoio técnico.
Em vez de enfrentar os reais desafios da educação paulista — como a evasão escolar, a precarização das condições de trabalho e a falta de infraestrutura —, o governo opta por iniciativas punitivas e desarticuladas da realidade das escolas. Tais medidas, longe de melhorar a qualidade do ensino, acabam por aprofundar o clima de tensão e desvalorização profissional.
Diante desse cenário, os profissionais da educação organizam-se em um abaixo-assinado contra a Avaliação 360º, com o objetivo de revogar essa medida que fere os princípios de uma avaliação justa, ética e pedagógica.
Segue abaixo o link para o abaixo-assinado contra a Avaliação 360º: