A importância do ato de ler – Paulo Freire – Resumo

O livro não foi uma obra dedicada, ou seja, não é um livro que Paulo Freire parou e se dedicou para escrever, na verdade são três artigos juntados que formaram um livro, os artigos se completam que tratam de temáticas diferentes: uma palestra sobre a importância do ato de ler, uma discussão sobre a importância da biblioteca popular na alfabetização de adultos e um artigo sobre a experiência de Freire na alfabetização de adultos em São Tomé e Príncipe.

A importância do anto de ler

Freire relembra sua infância de como era o pequeno mundo que ele vivia, o “mundinho” dele lá na cidade de Recife; as árvores, o cheiro das flores, as frutas, o quintal amplo da casa que morava, os pássaros, entre outras vivências da sua infância.

Ele relembra essas cenas da infância, essas imagens gravadas na memória para demonstrar que antes da alfabetização ele já tinha relação com o mundo, que a experiência de mundo antecede a experiência da palavra, e que a palavra vem a completar esse conhecimento. Em diversas passagens do texto Freire enfatiza a tese “palavramundo” que em tradução é a leitura da palavra atrelada ao conhecimento de mundo, ao ensinar uma criança ou adulto a escrever “maçã” a pessoa sabe o que é uma maçã, já teve contado, já começou uma maçã, então ela já tem esse conhecimento, a partir do momento que ela consegue escrever “maçã” ela passa a ter o conhecimento da “palavramundo”. Portanto sempre importante observar que quando se tratar de palavra mundo, temos a ideia de que o conhecimento de mundo antecede a palavra “a leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo”.

É necessário que após a leitura da palavra que como já sabemos é antecedida pela leitura de mundo, a reflexão continue, por exemplo, ler a palavra “bola”, é preciso que a pessoa lembre o que é uma bola, reviva a experiência que ele teve com a bola e agora capaz de escrever a palavra e também de lê-la, o educando adquiriu o total conhecimento da palavra, a palavra mundo. Também após esse conhecimento devemos estimular o educando a continua lendo o mundo.

Freire faz uma critica ao tempo que ele era aluno, e disse que nem sempre a leitura da palavra na época que ele estudava era a leitura de mundo, ou a “palavramundo” que é a leitura da palavra antecedida da leitura de mundo, o que nos remete a entender que a escola usava palavras fora da realidade local.

Ele enfatiza que a leitura de mundo dele era muito pequena, na verdade quando ele era criança era um pequeno mundo, pois observando ou ouvindo as linguagens dos mais velhos e de seus pais, ele percebia que havia outros mundos muito mais expandidos que o dele. Observa que quando ele tinha uma leitura de mundo as palavras que ele aprendia, aquelas que faziam parte do seu mundo, fluíam de maneira muito mais fácil e natural, porém palavras que faziam partes da realidade dos seus pais traziam maior dificuldade.

Paulo Freire compartilhou sua experiência como professor de Língua Portuguesa, e mesmo com temas complexos como ensino de regência verbal, sinclitismo pronominal, a crase, entre outras dificuldades que a língua portuguesa e a Gramática apresenta, toda essa dificuldade era proposta à curiosidade dos alunos, ou seja, Freire não fazia os alunos engolirem o conhecimento forçado, na verdade eles aprendiam por puro interesse, pois o educador os instigava a aprender, pois de Freire trazia vida às essas regras gramaticais trazendo-as a realidade dos educandos, fazendo com que houvesse a leitura do mundo mais uma vez.

Os alunos não tinham que memorizar a descrição do objeto, mas tinham que aprender a sua significação profunda, ou seja, a descrição do objeto poderia ser memorizada de maneira mecânica, entretanto os alunos só iriam aprender se houvesse a compreensão profunda do objeto, entender como esse objeto funciona.

Ele faz uma critica ao ato de ler em quantidades sem um interesse real, somente para memorizar o que está sendo lido, não é uma leitura real e nem resulta em conhecimento. Pode ser entendida como uma critica a maneira que as escolas cobram leitura dos alunos, pedem algum autor clássico, mas não contextualiza para o aluno a obra, e fica uma sensação de estar lendo algo que não faz o menor sentido, e o aluno passar a decorar a leitura, isso não é ler e não resulta em conhecimento.

Nesta apresentação o esforço de Paulo Freire foi dizer que a importância do ato de ler não é simplesmente recomendar que as pessoas simplesmente leem livros, e que o livro não trata-se apenas da leitura da palavra, que a leitura de mundo é muito importante para a leitura da palavra, o livro vai se tratar da leitura do mundo e da leitura da palavra mundo. A importância do ato de ler é uma leitura de mundo que antecede a leitura da palavra, e a leitura da palavra mundo.

Alfabetização de adultos e bibliotecas populares – uma introdução

Inicialmente Freire começa fazendo uma observação e uma critica, a respeito de quererem tratar a escola como uma instituição neutra, mas na verdade a escola é também política. E em seus argumentos Freire deixa claro que não há como separar a educação da política:

“Quanto mais ganhamos esta clareza através da prática, tanto mais percebemos a impossibilidade de separar o inseparável: a educação da política.”

Após essa afirmação ele utiliza o argumento de como a burguesia transformou a educação, a educação antes da burguesia chegar ao poder era aristocrata e não dava margem aos questionamentos da burguesia, a burguesia se organizou na sua própria de maneira de educação, porém só quando assumiu o poder é que pode sistematizar a educação com viés burguês.

Portanto eis que surge a escola como objeto de poder, e Freire destaca a importância do professor em sua prática pedagógica estimular os educandos a serem críticos, e não simplesmente negar que há na escola um interesse de poder pro trás, e simplesmente transferir conteúdos sem que haja constatações, agindo assim o educador favorece ao sistema.

Partindo dessa explicação ele começa a linkar essa opressão escolar também presente nas bibliotecas populares, que estas tratadas como um grupo acervo de depósito de livros que muitas vezes nada tem a ver com a realidade local.

É destaco mais uma vez que a leitura da palavra e precedida da leitura de mundo, e consequentemente a leitura da palavramundo, diante dessa observação Freire acha que a biblioteca popular tinha que ser fato popular, valorizando as histórias e vidas da comunidade, tratar a biblioteca popular como um centro cultural.

Seria interessante um projeto de biblioteca popular que estimulasse os jovens e adultos que antes tinham conhecimento de mundo, depois da palavra e agora da palavramundo, se antes eles eram oprimidos, agora seria necessários eles poderem escrever sua própria história, seus próprios livros e disponibilizar na biblioteca popular; “Estórias em torno de vultos populares famosos, do “doidinho” da vila, com sua importância social, das superstições, das crendices, das plantas medicinais, da figura de algum doutor médico, da de curandeiras e comadres, da de poetas do povo. Entrevistas com artistas da área, os fazedores de bonecos, de barro ou de madeira, escritores quase sempre de mão cheia; com as rendeiras que porventura ainda existam com os rezadores gerais, que curam amores desfeitos espinhelas caídas.”

Isso sim de fato poderia ser entendido como a verdadeira biblioteca popular, e não somente um amontoado de livros de autores que muitas vezes não ter que ver com a realidade da comunidade, não que não sejam importantes, porém é necessário que o jovem e adulto façam a leitura do seu próprio mundo para posteriormente fazer a leitura dos outros mundos, e não o contrário.

Portanto fica uma evidente critica a biblioteca popular da maneira que é arquitetada, com um acevo de livros que desestimulam os jovens e adultos que estão à procura da alfabetização, para Freire essas bibliotecas teriam que ser organizadas de maneira que contribua para o estimulo das pessoas em ler o mundo.

O povo diz a sua palavra a sua alfabetização em São Tomé e Príncipe

Freire compartilha a experiência dele como educador de adultos para alfabetização e pós-alfabetização em São Tomé e Príncipe que na época tinha acabado de ser independente, foi colônia por muito tempo e conquistou a independência.

No processo de alfabetização desses adultos foram utilizados dois Cadernos de Cultura Popular, Freire deixa bem claro que não são cartilhas nem manuais com exercícios ou discursos manipuladores.

Os Cadernos de Cultura Popular trazem em seu conteúdo os contextos da vida atual daqueles educandos, a pesca, o bonito (que é um peixe muito popular), a Matabala (uma espécie de batata bastante presente na dieta do povo são-tomense), entre outras figuras presentes no cotidiano daquele povo, trazendo a ideia de contextualização das palavras a serem aprendidas tanta na escrita como na leitura, Freire traz sempre a necessidade da linguagem utilizada na alfabetização faça algum sentido para os educandos, trazendo assim mais estímulos em aprender e instigar cada vez mais a curiosidade pela leitura e a escrita.

Nos cadernos são abordados temas da vivência do país, e assuntos políticos, pois para Freire a escola não está neutra com relação à politica. Seguindo a orientação do caderno de cultura popular é necessário ter a leitura do mundo em que vive, a reescrita e a pós-alfabetização, o educando lê primeiramente em voz baixa, depois escreve, depois o texto é lido em voz alta e, muito importante, é imprescindível sua discussão em grupo, ou seja, o educando lê em voz alta o texto do Caderno de Cultura, que normalmente aborda aspectos políticos e da realidade do país e a sala discute o tema, ou seja, é muito importante para o educando que leu saber que foi ouvido, e mais importante é a discussão, a leitura do mundo.

Em muitas passagens do Caderno de Cultura Popular a orientação de que é praticando que se aprende e repetida diversas vezes, ou seja, não é possível ler e escrever sem praticar, e é lendo o mundo que se aprende. No próprio Caderno de Cultura Popular está escrito que o educando aprendeu a ler da maneira correta, e não através de mecanismos de repetição do b-a-bá.

No segundo Caderno de Cultura Popular começa a inicialização a gramática e os verbos utilizados para a aprendizagem remetem novamente a realidade dos educandos e do país, a luta pela libertação, reconstrução nacional, pensar certo, entre outros verbos que são as palavras chave de um posterior texto que vai remeter a realidade dos educandos, conforme podemos conferir a seguir:

“RECONSTRUÇÃO NACIONAL A

A reconstrução nacional é o esforço no qual o nosso Povo está empenhado para criar uma sociedade nova. Uma sociedade de trabalhadores. Mas, repara, se dissemos que temos de criar a sociedade nova é porque ela não aparece por acaso. Por isso, a reconstrução nacional é a luta que continua. Produzir mais nas roças e nas fábricas, trabalhar mais nos serviços públicos é lutar pela reconstrução nacional. Ninguém em São Tomé e Príncipe tem o direito de cruzar os braços e esperar que os outros façam as coisas por ele. Sem produção nas roças e nas fábricas, sem trabalho dedicado nos serviços públicos, não criaremos a nova sociedade.

RECONSTRUÇÃO NACIONAL B

Vimos, no texto anterior, que produzir mais nas roças, nas fábricas e trabalhar mais nos serviços públicos é lutar pela reconstrução nacional. Vimos também que a reconstrução nacional, para nós, significa a criação de uma sociedade nova, sem explorados nem exploradores. Uma sociedade de trabalhadores e de trabalhadoras. Por isso, a reconstrução nacional exige de nós: Unidade, Disciplina, Trabalho e Vigilância.

– Unidade de todos, tendo em vista um mesmo objetivo: A CRIAÇÃO DE UMA SOCIEDADE NOVA. – Disciplina na ação, no trabalho, no estudo, na vida diária. Disciplina consciente, sem a qual nada se faz, nada se cria. Disciplina na unidade, sem a qual se perde o trabalho. – Trabalho. Trabalho nas roças. Trabalho nas fábricas. Trabalho nos serviços públicos. Trabalho nas escolas. – Vigilância, muita vigilância, contra os inimigos internos e externos, que farão tudo o que puderem para deter a nossa luta pela criação da nova sociedade.

O que podemos perceber dessa obra “a importância do ato de ler” é que o tema central, o que é indispensável para a compreensão do que Paulo Freire quer transmitir é que a leitura do mundo precede a leitura da palavra.

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