A violência não é um fenômeno recente e vem ganhando cada vez mais com o passar dos anos, e não só vem aumento como vem ganhando atores cada vez mais jovens, inclusive crianças e adolescentes. A mídia nos mostra diariamente cenas violentas e isso vem a trazer uma naturalidade para a violência, uma banalização da violência. Tornar a violência como corriqueiro e banal, além de incentivar os atos violentos, minimiza outros atos violentos considerados “menores”, mas não deixam de ser violência.

A violência no contexto escolar, ou seja, a violência na escola ainda é pouco trabalhada do ponto de vista da pesquisa educacional, porém já existe há tempos uma grande preocupação por parte dos educadores e pais sobre o assunto, e a discussão é ampla.

Não podemos dissociar a presença da violência escolar da violência social. A violência já está presente na sociedade; miséria, corrupção, desemprego, desigualdade autoritarismo, entre outras chagas da sociedade.  Sociedades violentas geram escolas violentas, existe, sim, essa relação, mas não podemos ver essa relação de modo mecanicista e simplista, ou seja, que, só pelo fato da sociedade ser violenta, isso já gere uma escola violenta, há casos em que existem escolas vizinhas que estão no mesmo contexto social e violento e uma escola tem alto índice de violência e outra pouquíssimos casos. Essa violência externa é refletida na escola, porém não é somente a reflexão da violência externa no ambiente escolar, a escola produz sua própria violência. Portanto a relação entre violência e escola não pode ser somente entendida de fora para dentro.

O que se entende por violência

A principio para ser uma resposta simples, porém não é, a violência que mais vemos na TV é a o violência física; agressão, estupro, assassinato, atropelamento entre outros que lidam diretamente uma intervenção física voluntária contra algum individuo de modo a coagi-lo, ofendê-lo, danificar fisicamente e até mata-lo. Este é um ponto de violência mais vista e debatida na mídia. Esta seria a violência direta e há o prejuízo no estado físico e emocional da vítima.

Porém existe uma violência não direta em que há a alteração do ambiente físico que a pessoa convive, não há uma agressão física, mas há a agressão psíquica e moral; preconceitos, bullyng, racismo, ameaças, entre outros que a pessoa não sente a agressão no corpo, mas assim como na primeira há um prejuízo no estado físico e emocional da vítima.

Em ambas as situações a intenção é a negação e a destruição do outro.

Escola e violência: o que pensam professores e jovens

Candau e outros/1999 evidenciou que a problemática das diferentes manifestações da violência no contexto escolar é extremamente complexa e multidimensional.

Para os professores a violência está aumentando na escola de forma quantitativa, ou seja, o número de casos de violência vem aumentando, mas aumenta também de maneira qualitativa, ou seja, os artifícios para gerar a violência vêm ficando mais criativos e sofisticados.  Outro ponto que os professores destacam é que os atores dessa violência são vítimas da violência social e acabam refletindo isso na escola.

A maioria dos professores tem dificuldade em identificar a violência gerada pela própria escola, eles só conseguem ver a relação da violência vindo de fora para dentro, que não é um equivoco, existe a violência de fora para dentro, mas existe também a gerada dentro da escola. O modo de receber de conceber a avaliação e disciplina que são práticas tipicamente escolares, pode ser entendido como uma violência simbólica e é produzida exclusivamente dentro da escola.

As violências mais presentes no dia a dia escolar são: ameaças e agressões verbais entre os alunos e alunas, e entre estes e os adultos. Agressões físicas são menos frequentes, mas também acontecem na escola. E muitas vezes as discussões e agressões verbais e ameaças começam na escola e vão terminar lá na rua, ou seja, levam o problema que começou na escola para resolver na rua, o famoso “te pego na saída”. Obs: Na obra a autora entrevistou professores de ensino fundamental, portanto é nesse contexto que estamos tratando o assunto.

Um fenômeno que vem acontecendo recentemente é o assédio das escolas pelo narcotráfico. Os professores relatam casos de alunos que foram seduzidos pelo narcotráfico e em decorrência de conviver com o crime acabam sendo mortos prematuramente.

Mais uma observação feita pelos professores é a cultura da violência, seria uma espécie de glamorização da violência, o ato violento sendo usado como ferramenta de socialização, ou seja, aquele aluno muito “bonzinho” não se enquadra nessa socialização escolar.

A violência familiar também contribui na violência escolar, a criança pode ser vítima da violência escolar ou convivente com essa violência, o pai bêbado que chega em casa quebrando tudo ou brigando com a esposa, entre outras violências, e essa criança ou adolescente acaba levando essa realidade pra dentro da escola, ela pode se tornar indisciplinada, irrequieta ou uma criança com déficit de atenção entre outras dificuldades.

Depredações e pichações também foram evidenciadas pelos professores como violência, e sendo a escola um local de convívio social, estando ela toda depredada e/ou pichada  traz a tona o abandono e o hostilidade que é o local.

O que pensam os educandos

No colégio Guarani, escola pública situada no Rio de Janeiro, os alunos entrevistados a respeito da violência na escola começaram afirmando “a violência hoje em dia está muito presente”.

Diversos pontos foram evidenciados pelos educando que eles acreditam ser fatores violentos:

Condição de vida dos mais pobres, falta de policiamento, desemprego, entre outros. Foi também observado a violência policial e o perigo de ter cada vez mais civis armados. Também foi evidenciado as brigas entre gangues rivais, as brigas em bailes funk que tem relacionamento com o tráfico. Foram também lembrados; banalização da violência na TV, discriminação social, a violência contra a  mulher, agressões verbais aos semelhantes por motivos banais do cotidiano.

Na escola Iracema, escola particular situada no Rio de Janeiro, por serem mais elitizados eles trazem outra visão de violência acerca da realidade que eles vivem, relatam assaltos que eles próprios sofreram e roubos cometidos por “pivetes”. Linchamentos, tiroteios entre a polícia e bandidos foi lembrado, e também observaram o suicídio como uma realidade ao redor deles e foi tratado como violência.

Observaram como violência a fome, a miséria, o desemprego, desigualdade social, omissão do governo, violação dos direitos humanos, banalização da violência na TV.

Os jovens desse colégio, também, destacaram que a violência está muito presente na atualidade.

Violência e cotidiano escolar: questão de segurança ou de proposta político pedagógica?

É evidente que a violência na escola é um grande problema, e só há duas alternativas para tentar solucionar o problema, a primeira é resolver a questão da segurança aumentando o policiamento, usando de artifícios para aumentar a segurança dentro da escola e a segunda é apostar em uma proposta político-pedagógica que procure mudar a cultura.

A primeira proposta de trazer mais segurança para escola já foi usada em outros países e não obteve sucesso, a aumento da segurança na escola faz com que ela perda a essência, a escola é equipada com guardas escolares, câmeras de vigilância, as salas de aula com uma espécie de parede semitransparente, onde quem está de fora consegue ver quem está dentro da sala, e quem está dentro da sala não vê quem está de fora, detectores de metais, revistas corriqueira dos alunos.

Em Curitiba tem uma iniciativa em melhorar a segurança escolar, lá eles fazem revistas nos alunos com uma frequência moderada, é um programa chamado de patrulha escolar, onde os alunos são revistados dentro da sala de aula, algo totalmente constrangedor, para dizer o mínimo.

Outro problema nesse mecanismo de trazer uma segurança típica de presídios para dentro da escola é o distanciamento entre professor e aluno, uma vez com todo aparado sofisticado de segurança o professor se preocupa apenas em transmitir os conhecimentos técnicos das matérias, e não há um diálogo com alunos acerca de discutir os problemas sociais, ou mesmo a mediação dos professores em conflitos comuns entre alunos, isso fica a cargo dos guardas, isso traz ao educando um sentimento de abandono, são hostilizados pelos guardas e ignorados pelos professores. A escola passa a ter uma outra configuração, vira qualquer outra coisa, mas não vira uma escola.

Candau e outros defendem a ideia de uma proposta politico-pedagógica promovendo a cultura dos direitos humanos, fazendo um trabalho desde a base, ali praticamente na creche até o término do ensino fundamental, trocando a atual cultura da violência pela cultura dos direitos humanos.

Implementando a cultura dos direitos humanos trazendo a dignidade do individuo, trazendo a importância da vida, e a importância de proteger a vida, proteger o próximo, resgatar o aluno como sujeito do processo educativo, reflexão coletiva entre professores e alunos, discutir os problemas sócias e de certa forma procurar encontrar saídas para os problemas.

Não permitir que essa cultura da violência que coisifica o próximo ganhe força e impere, é necessário um trabalho longo, não é do dia para noite que se consegue mudar uma cultura escolar, dar força a cultura dos direitos humanos que tira essa ideia do outro como inimigo, mas como um ser humano que possui sentimentos, capacidades e que possui direito a vida e a viver.

Para se aprofundar assista a palestra da Candau:

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