A Prefeitura de São Paulo, sob a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), decidiu afastar ao menos 25 diretores de escolas da rede municipal. A justificativa oficial é de que essas unidades não teriam atingido desempenho satisfatório em avaliações externas, como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). A medida foi anunciada junto à convocação dos gestores para um curso de “requalificação”, o que, na prática, representa o afastamento temporário de suas funções durante esse período.

A decisão, publicada no Diário Oficial, gerou forte reação entre professores, pesquisadores da área de educação e membros da comunidade escolar. Especialistas criticam os critérios adotados, alertando para o risco de desconsiderar os contextos sociais e estruturais que impactam diretamente os resultados escolares.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, os afastamentos atingem apenas as escolas que, por dois anos consecutivos, apresentaram IDEB abaixo da média da rede. No entanto, muitas das unidades afetadas estão localizadas em áreas de alta vulnerabilidade social, com elevado número de alunos em situação de pobreza ou migrantes recém-chegados ao país, como é o caso da EMEF Espaço de Bitita, na zona leste. Apesar de reconhecida nacionalmente por sua proposta pedagógica, a escola registrou nota 4,5 no IDEB — abaixo da média municipal de 5,6.

Cláudio Marques, ex-diretor da unidade, lembra que quase metade dos alunos matriculados são filhos de imigrantes, muitos dos quais ainda não dominam a língua portuguesa. Para ele, a medida desconsidera a realidade vivida diariamente pela comunidade escolar:

“Não se trata de um problema de ensino, e sim de um contexto educacional desafiador.”

Outro exemplo é o da diretora Sílvia Regina Rocha, também afastada, que atuava em uma escola da zona sul da capital situada em região de extrema vulnerabilidade. Apesar dos desafios, sua escola recebeu reconhecimento do Ministério da Educação por seu projeto pedagógico inovador.

“Nosso Ideb não é alto, mas ele é um retrato da nossa realidade. As crianças vivem em grande vulnerabilidade e sem direitos sociais garantidos. Isso não é considerado pela prefeitura”, afirmou.

Além da falta de sensibilidade para com os contextos específicos de cada escola, a decisão acendeu o alerta para uma possível estratégia de privatização da educação pública municipal. O temor aumentou após a declaração de que até 50 escolas com os piores indicadores poderão ser repassadas à gestão da iniciativa privada. Em evento recente, o prefeito chegou a afirmar que “professor que não ensina, não transmite conhecimento”, em tom de responsabilização individual, ignorando os desafios sistêmicos enfrentados pela rede pública.

A Secretaria Municipal de Educação defende que a medida integra uma ação inédita de formação, com visitas a outras redes de ensino e foco na melhoria da aprendizagem. Segundo nota oficial, os diretores afastados continuarão recebendo seus salários e serão substituídos temporariamente.

Conclusão

A decisão da Prefeitura de São Paulo, conforme noticiado pela Folha de S.Paulo, representa um grave erro de gestão educacional ao basear o afastamento de diretores exclusivamente em indicadores numéricos como o IDEB. Ao invés de comparar o desempenho da escola com a média da rede, o correto seria analisar o progresso da escola em relação à sua própria comunidade e contexto — incluindo vulnerabilidades sociais, econômicas e culturais.

Essa escolha ignora os enormes desafios enfrentados por muitas unidades e compromete tanto a justiça na avaliação dos profissionais quanto a continuidade de projetos pedagógicos relevantes. O resultado é a desvalorização de equipes comprometidas que atuam nas áreas mais críticas da cidade, além da abertura de caminho para políticas de privatização que podem enfraquecer ainda mais a escola pública como espaço de inclusão, acolhimento e transformação social.

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